segunda-feira, 23 de novembro de 2009

AUDITORIA INTERNA - Função e Processo(1)

AUDITORIA INTERNA - Função e Processo(1)



ISABEL MARTINS

Equip. a Assitente do 1º Triénio da ESTV

GEORGINA MORAIS

Assistente no ISCA - Coimbra



A Auditoria Interna é um tema que sempre nos aliciou e, por motivos académicos e profissionais, sentimos a necessidade de investigar. Por outro lado, pretendemos sensibilizar outros profissionais para este ramo de Auditoria, ainda pouco divulgada entre nós.





Este trabalho não pretende esgotar o tema, mas, tão-somente, chamar a atenção para a crescente importância da Auditoria Interna, motivada pela pressão do dia a dia de quem tem de cumprir objectivos em diversas áreas. Nesta perspectiva, o posicionamento da Auditoria Interna, numa visão actual do seu funcionamento, centra a sua atenção, não na Auditoria aos órgãos da empresa, mas às actividades que esta exerce.

Nos Estados Unidos, os primeiros auditores internos apareceram há mais de cinquenta anos. No entanto, a existência reconhecida de Auditoria Interna tem apenas cerca de vinte. Na Europa, depois do Reino Unido, é a Alemanha quem pratica Auditoria Interna há mais tempo. Em Portugal, a Auditoria Interna é muito recente. As empresas portuguesas só nos últimos anos têm vindo a acompanhar as inovações operadas neste âmbito, adoptando-as e ajustando-as consoante as suas possibilidades e o entendimento da função pelas suas Administrações.

O crescimento constante das empresas, quer em tamanho quer em diversificação da sua actividade económica, dificulta o controlo da sua actividade a um grupo limitado de pessoas.

Os auditores internos podem estar numa situação única para ajudar as suas empresas a eliminar desperdícios, simplificar tarefas e reduzir custos. Para além dos tradicionais objectivos empresariais de optimização de lucros e de resposta às necessidades dos mercados em que se inserem, num mundo em constante mutação, as empresas deparam-se com novas situações, que conduzem a uma forte motivação, relativamente a preocupações com a eficácia e eficiência dos recursos. Actualmente, a Auditoria Interna constitui uma função de apoio à gestão. A Auditoria Interna, além de importante, tornou-se imprescindível no mundo empresarial actual.

A Auditoria Interna fornece análises, apreciações, recomendações, sugestões e informações, relativas às actividades examinadas, incluindo a promoção do controlo eficaz a custo razoável. O auditor interno deve revelar as fraquezas, determinar as causas, avaliar as consequências e encontrar uma solução de modo a convencer os responsáveis a agir.

Em suma, sem pretender compilar um manual acerca de Auditoria Interna, este trabalho visa demonstrar que o auditor interno não é um "polícia", mas um profissional que pretende responder às expectativas da Administração sobre os maiores riscos da empresa: observando, aconselhando e esclarecendo os responsáveis envolvidos, persuadindo-os a implantar as acções correctivas necessárias. Além disso, que a Auditoria Interna é uma função de apoio à gestão, baseada num processo sistemático, utilizando as técnicas de Auditoria apropriadas.

O trabalho desdobra-se em quatro capítulos. Os capítulos um e dois pretendem evidenciar o enquadramento e a função de Auditoria Interna. Os capítulos três e quatro pretendem abordar a Auditoria Interna numa vertente mais prática.

O primeiro capítulo faz uma abordagem teórica ao enquadramento da Auditoria Interna, começando por definir Auditoria, enumerando os tipos, enquadrando-a na classificação. Abordamos, dada a sua importância para a Auditoria, o controlo interno: factores que o influenciam, tipos de controlo, métodos, relação com a Auditoria, avaliação e relatório. Destacamos que o objectivo da avaliação do controlo interno é diferente para os Auditores Internos e Externos. Comparamos a Auditoria Interna da Externa. Destacando os pontos de contacto, de afastamento e a colaboração necessária entre os auditores internos e externos. Também apresentamos um quadro resumo com as principais diferenças entre o auditor interno e externo. Este capítulo não poderia terminar sem evidenciar e dar relevo às normas de Auditoria Interna, enumerando-as minuciosamente.

O segundo capítulo aborda a função e organização de Auditoria Interna. Após o enquadramento da Auditoria Interna, este capítulo revela a função, começando com uma breve evolução histórica, definindo a função, dando relevo à sua função de apoio à Direcção e de vigilância do sistema de controlo. Abordamos a necessidade de criação de um Departamento de Auditoria Interna, critérios de oportunidade, dando relevância à análise do custo/benefício, e factores a ter em conta na organização de um serviço de Auditoria Interna. Apresentamos o posicionamento ideal no organigrama da empresa, articulação com os diferentes níveis de gestão e a estrutura do departamento.

O terceiro capítulo destaca o processo de Auditoria Interna subdividido por nove fases distintas, com as respectivas tarefas e risco associado (factores e medição do risco), dando particular ênfase às duas últimas fases, uma vez que distinguem o processo de Auditoria Interna do processo de Auditoria Externa. A oitava fase, o "follow-up", foi muito pormenorizada, em virtude de ter de ser, como qualquer acção, atempada e oportuna. De igual modo, a importância da avaliação só tem razão de ser se conseguir acrescentar valor à gestão da empresa e melhorar a qualidade de futuras Auditorias.

No quarto e último capítulo abordamos a Auditoria Interna por cinco áreas operacionais de uma média empresa, de acordo com o seu organigrama.

Em seguida, apresentamos as conclusões do presente trabalho.

Concluímos a presente introdução acreditando que o Auditor pratica a dúvida metódica e que, tal como Descartes, entendemos, "por método, regras certas e fáceis, que permitem a quem exactamente as observar nunca tomar por verdadeiro algo de falso e, sem desperdiçar inutilmente nenhum esforço da mente, mas aumentando sempre gradualmente o saber, atingir o conhecimento verdadeiro de tudo o que será capaz de se saber."(2) Entendemos que o auditor interno, no trabalho a desenvolver, não deve aceitar nada como verdadeiro, sem ter a certeza de que o é, isto é, em busca da prova, utilizando procedimentos lógicos, estruturados e organizados.

AUDITORIA – CONCEITOS E ASPECTOS GERAIS

AUDITORIA – CONCEITOS E ASPECTOS GERAIS



• Os procedimentos de auditoria formam um conjunto de verificações e averiguações que permitem obter e analisar as informações necessárias à formulação da opinião do auditor. Geralmente são listas de pontos a serem averiguados durante a auditoria.
• O estabelecimento dos procedimentos antes da execução da auditoria é altamente recomendável.
• Entidades fiscalizadoras superiores costuma ter os manuais de auditoria, contendo os objetivos de controle e os procedimentos de auditoria.
• Achados de auditoria são fatos significativos observados pelo auditor durante a execução da auditoria. Geralmente estão associados a falhas e irregularidades, mas podem conter pontos fortes da instituição auditada. Para que constem do relatório os achados devem ser relevantes e baseados em fatos e evidências irrefutáveis.
• Papéis de trabalho são registros que evidenciam atos e fatos observados pelo auditor. Esses registros devem estar sob a forma de documentos, tabelas, planilhas, listas de verificações, arquivos informatizados. Esses documentos dão suporte ao relatório de auditoria uma vez que contêm o registro da metodologia adotada, procedimentos, verificações , fontes de informações, testes, enfim, todas as informações relacionadas ao trabalho de auditoria executado.

• Na fase de relatório são feitas recomendações de auditoria. São medidas corretivas possíveis, sugeridas pela instituição fiscalizadora ou pelo auditor em seu relatório para corrigir as deficiências detectadas durante a auditoria. Dependendo da competência ou posição hierárquica do órgão de controle em relação à entidade auditada, essas recomendações podem se transformar em determinações a serem cumpridas.

• A natureza da auditoria pode ser dividida

o Quanto ao órgão fiscalizador

 Auditoria interna: realizada por departamento interno responsável pela verificação e avaliação dos sistemas e procedimentos internos de uma entidade. Um dos objetivos é a redução de fraudes, erros, práticas ineficientes ou ineficazes. O setor responsável pela auditoria deve ser independente e responder diretamente à direção da instituição.
 Auditoria externa: realizada por instituição externa e independente da entidade fiscalizada, com o objetivo de emitir um parecer sobre a gestão de recursos da entidade, sua situação financeira, a legalidade e regularidade de suas operações.
 Auditoria articulada: Trabalho conjunto de auditorias internas e externas, devido à superposição de responsabilidades dos órgãos fiscalizadores, no sentido de uso comum de recursos e comunicação recíproca dos resultados.

o Quanto à forma de abordagem do tema

 Auditoria horizontal: auditoria com tema específico, realizada em várias entidades ou serviços, paralelamente.
 Auditoria orientada: facada em uma atividade específica qualquer ou atividades com fortes indícios de erros ou fraudes.

o Quanto ao tipo ou área envolvida

 Auditoria de programas de governo: refere-se ao acompanhamento, exame e avaliação da execução de programas e projetos governamentais específicos. Em geral preocupa-se também com a efetividade das medidas governamentais.
 Auditoria de planejamento estratégico: verifica se os principais objetivos da entidade são atingidos e se as políticas e estratégias de aquisição, utilização e alienação de recursos são respeitadas.
 Auditoria administrativa: engloba o plano da organização, seus procedimentos e documentos de suporte à tomada de decisão.
 Auditoria contábil: salvaguarda dos ativos e da fidedignidade das contas da instituição. Tem por finalidade dar um certa garantia de que as operações e o acesso aos ativos se efetuem de acordo com as devidas autorizações. A contabilização dos ativos é comparada com sua existência física a intervalos razoáveis de tempo e são recomendadas ou exigidas as medidas corretivas adequadas, caso ocorra inconsistências injustificáveis.
 Auditoria financeira ou de contas. Consiste na análise de contas, da situação financeira, da legalidade e regularidade das operações e aspectos contábeis , orçamentários e patrimoniais, verificando se todas as operações foram devidamente autorizadas, liquidadas, ordenadas, pagas e registradas. Este tipo de auditoria checa se foram tomadas medidas apropriadas para registrar com exatidão e proteger todos os ativos e se todas as operações registradas estão em conformidade com a legislação em vigor.
 Auditoria de legalidade ou de regularidade, ou ainda, de conformidade. Consiste na análise da legalidade ou regularidade das atividades, funções, operações ou gestão de recursos, verificando se estão em conformidade com a legislação em vigor.
 Auditoria operacional. Esta auditoria coincide com todos os níveis de gestão, nas fases de programação, execução e supervisão, sob o ponto de vista da economia, eficiência e eficácia. É também conhecida como auditoria de gestão, de eficiência, de resultados ou de práticas de gestão, onde são auditados todos os sistemas e métodos utilizados pelo gestor para tomar decisões. Analisa a execução das decisões tomadas e aprecia até que ponto os resultados pretendidos forma alcançados.
 Auditoria integrada: Inclui, simultaneamente, auditoria financeira e operacional.
 Auditoria da tecnologia da informação: essencialmente operacional, por meio da qual os auditores analisam os sistemas de informática, o ambiente computacional, a seguranças das informações e o controle interno da entidade auditada, indicando seus pontos fortes e/ou deficiências. Em alguns países é conhecida como auditoria de informática computacional ou de sistemas. Em também conhecida como auditoria de TI.

Normas de Relato de Auditoria Financeira

Março 27 2009
As quatro normas de relato geralmente aceites são as seguintes:



a. O relatório deve declarar se as demonstrações financeiras estão apresentadas em conformidade com os princípios contabilísticos geralmente aceites.



b. O relatório deve identificar as circunstâncias em que esses princípios não tenham sido observados de forma consistente no período corrente, em relação ao período anterior.



c. A informação revelada nas demonstrações financeiras deve ser considerada razoavelmente suficiente, excepto se o contrário for afirmado no relatório.



d. O relatório deve exprimir um parecer relativo às demonstrações financeiras, no seu todo, ou uma justificação que explique porque não pode ser exprimido um parecer. Sempre que um parecer geral não possa ser emitido, devem apresentar-se as razoes para tal. Sempre que o nome de um auditor esteja associado a demonstrações financeiras, o relatório devem incluir uma indicação indubitável da natureza do trabalho do auditor, se algum, e do grau de responsabilidade que o auditor assume.





Do mesmo modo acrescenta-se que:

Os relatórios de auditoria devem declarar que a auditoria foi efectuada em conformidade com as normas geralmente aceites.



Ao emitir um parecer ou uma renúncia de parecer sobre demonstrações financeiras, os auditores devem incluir nos seus relatórios sobre as demonstrações financeiras (1) uma descrição do âmbito dos testes realizados pelos auditores ao controlo interno do relato financeiro e à conformidade com as leis, regulamentos e disposições contratuais ou de acordos de subsídio, bem como os resultados desses testes ou um parecer, caso tenha sido executado trabalho suficiente, ou (2) referência a outros relatórios separados que contenham essa informação. Caso os auditores relatos separadamente, o parecer ou a renúncia devem incluir uma referência ao relatório separado que contenha esta informação, bem como declarar que o relatório separado é parte integrante da auditoria e deve ser considerado ao avaliar os resultados desta.



Para auditorias financeiras, incluindo auditorias a demonstrações financeiras acerca das quais o auditor emite ou parecer ou uma renúncia, os auditores devem relatar, consoante o relevante para os objectivos da auditoria, (1) deficiências do controlo interno consideradas como condições relatáveis, tal como definido pelas normas, (2) todos os casos de fraude e actos ilegais, excepto se forem claramente inconsequentes, e (3) violações significativas de disposições contratuais ou de acordos de subsídio, e abuso. Sob algumas circunstâncias, os auditores devem relatar a fraude, actos ilegais, violação de disposições contratuais ou de acordos de subsídio, e abuso directamente a partes externas à entidade auditada.



Se o relatório de auditoria revelar deficiências de controlo interno, fraude, actos ilegais, violação de disposições contratuais ou de acordos de subsídio, ou abuso, os auditores deverão recolher e relatar o ponto de vista dos quadros responsáveis relativamente a tais constatações, conclusões e recomendações, bem como sobre as medidas correctivas planeadas.



Se determinada informação relevante não puder ser publicamente revelada, o relatório de auditoria deve referir a natureza da informação omitida e o requisito que torna tal omissão necessária.

O Dinheiro

O dinheiro é a coisa mais importante do mundo. Representa: saúde, força, honra, generosidade e beleza, do mesmo modo que a falta dele representa: doença, fraqueza, desgraça, maldade e fealdade
Arthur Schopenhauer

O que é o crédito bancário?

Por Adélio Fonseca



Foi-me sugerido pelo responsável desta publicação o tratamento do tema “crédito” através da óptica bancária por ser esta a área em que desenvolvo a minha actividade profissional.

Irei abordar o tema de uma maneira simples e despretensiosa não apenas por ser esta uma publicação não técnica mas ainda porque o crédito bancário, apesar da sua grande importância, não esgota, nem de longe, a temática Crédito.

a) Além da Banca as entidades envolvidas no crédito são as pessoas, empresas e o Estado «latu sensu», considerando nele todos os seus organismos centrais e locais, empresas públicas, Câmaras Municipais e Organismos financeiramente autónomos, etc. Podemos assim obter uma primeira classificação do crédito em Público e Privado, podendo este dividir-se em pessoal e empresarial.

b) As operações de crédito têm, como tudo, uma certa duração no tempo e, nesta óptica, pode dizer-se que o crédito é de:

Curto prazo: até um ano de duração;


Médio/Longo Prazo: para além de um ano de duração, com variadíssimas subdivisões.

É claro que estes prazos tentam adequar-se o mais possível ao fim para o qual o crédito é constituído.

O crédito de curto prazo deve atender a situações pontuais de rápida resolução ainda que a ele se recorra sempre que necessário, sendo exemplos, no caso de pessoas: as despesas inesperadas, a aquisição de bens de comodidade para o lar, pequenas obras, uma jóia mais cara, etc.etc.; e no caso de empresas: a aquisição de mercadorias ou matérias primas que sejam rapidamente integráveis no seu circuito de actividade, vendas e cobrança.

O crédito de médio prazo destina-se já a apoiar a aquisição de bens com alguma duração de vida útil que ultrapassa o imediato e de que podemos destacar, no caso dos particulares, o carro, a roulotte, às vezes o barco e ainda obras de pequena dimensão; no caso das empresas, se comerciais, a aquisição de viaturas e obras de remodelação de alguma dimensão nas suas instalações e, se empresas industriais, a aquisição de maquinaria cuja validade técnico/funcional não ultrapassa (ou ultrapasse pouco) o prazo do crédito que lhe foi afecto. Excepcionalmente, no caso de algumas industrias específicas, para aquisição de matérias primas raras ou cuja integração nos circuitos de produção seja lento.

O crédito de longo prazo, nos particulares e nas empresas comerciais, reduz-se à compra de habitação, primária ou secundária e de instalações próprias; no caso de empresas industriais não só à compra de instalações mas ainda, excepcionalmente, à aquisição de maquinaria pesada que pelas suas características possa ter grande durabilidade e pouca actualização técnica; no caso do Estado para obras públicas ou equipamentos sociais.

c) A classificação anterior deixou perceber algumas distinções quanto à finalidade do crédito e, por aqui, podemos chegar a outra maneira de o classificar:

quanto a ser destinado a financiar o consumo, associado principalmente aos particulares;


ou destinado ao investimento e/ou fins socialmente úteis, associado geralmente às empresas ou ao Estado.

O consumo deve ser essencialmente suportado não pelo crédito mas pelos próprios meios gerados pelas pessoas (poupanças) e empresas (lucros). Se isto não acontecer podem surgir situações de aperto financeiro quer para pessoas quer para empresas as quais só se resolvem por recurso a novo crédito ou dilação do anterior o que provoca sempre mais juros e dificuldades. Também o crédito ao investimento, para ser saudável, deve fundar-se em expectativas fortes que assegurem o seu retorno em tempo útil que evite atrasos ou dilações os quais significam sempre mais custos e problemas.

d) Cada vez menos o “a crédito” tem como suporte o “acredito”, sua matriz original e por isso, quem empresta procura cada vez mais garantir que o seu dinheiro lhe será retribuído com juros ou por quem pede emprestado ou por terceiros ou por qualquer outra maneira. Isto leva a nova classificação do crédito:

sem garantia: limita-se à assinatura de um contrato (ou a sua presunção) entre quem empresta e quem pede emprestado;


com garantia: para além das referidas assinaturas obriga a dação de garantias que podem, conforme os casos e as circunstâncias aconselhem, serem pessoais (avales em títulos e fianças em contratos) ou reais (bens sujeitos a registo que ficam afectos ao crédito até à sua liquidação).

e) O Crédito é um instrumento muito utilizado pelos agentes económicos e é de notar que sempre que a economia (de tipo capitalista) está em crescimento, o crédito cresce também e que sempre que aquela decresce o mesmo sucede ao crédito. Dito isto de maneira tão simplista poderia parecer que sempre que houvesse uma crise aumentava-se o recurso ao crédito e, pronto, aquela desapareceria. Mas é exactamente o contrário e, não cabendo aqui explicitar as complexas inter-relações económicas, dir-se-á apenas que o crédito é como alguns alimentos que, por serem tão ricos e energéticos, só devem ser usados com parcimónia sob pena de destruírem ou arruinarem o organismo que os consome. Mas então o crédito é útil e necessário ou não? Poderíamos ou não viver sem crédito?

Os Estados mais desenvolvidos recorrem sistematicamente a financiamentos de longuíssimo prazo para suportar grandes obras de infra-estruturas e ordenamento tais como estradas, caminhos de ferro, portos, aeroportos, barragens etc etc. as quais vão permitindo algum desenvolvimento sustentado para toda a população. Normalmente estes financiamentos contêm cláusulas que permitem adaptar-se às possíveis alterações de mercado que possam surgir - e sempre surgem - durante a sua vigência pois são operações que podem chegar e ultrapassar os 30 e mais anos. Com este esquema o Estado, através dos impostos (com que paga o empréstimo e os juros), faz com que as sucessivas gerações que usufruem do benefício o paguem, não cabendo esse encargo exclusivamente à geração actual em que o investimento é feito. Sem crédito isto ou não seria possível ou seria muito mais complicado

Este exemplo também serve para muitas empresas que compram, com recurso ao crédito, máquinas ou instalações; estes, indo subsistir por diversos anos afectarão muitos exercícios económicos da vida da empresa, sendo justo que sobre estes recaia também parte do encargo. Ao mesmo tempo que vão surgindo lucros dos investimento feito, estes, sem maiores dificuldades para a empresa pagam o crédito que lhes deu origem. Novamente, sem crédito isto seria ou muito mais difícil ou impossível

Mas se o Estado e as empresas dispuserem do dinheiro, é melhor!

De uma maneira novamente simplista dir-se-á que pode não ser rigorosamente assim.

O crédito serve essencialmente para “comprar” tempo.

Comprar propositadamente entre comas, porque o tempo dá-o Deus de graça. Mas se não para comprar, seguramente para antecipar. E por isso o grande interesse económico, mas principalmente sociológico, do crédito. Na verdade com o crédito é possível fazer já aquilo que, sem ele, só poderia ser feito daqui a algum tempo depois de acumular poupanças e usando estas de uma só vez em determinado melhoramento. Esgotada esta poupança, novo processo se iniciaria até se possuir novo montante que outra vez se aplicaria em novo melhoramento ou compra. Ora isto é um processo pouco plástico, muito mecânico, rígido. O crédito facilita esta engrenagem fazendo com que hoje use e se pague o que outros antes investiram e, simultaneamente, se contribua para investimentos de que nós próprios usufruímos e os vindouros utilizarão.

f) Como se disse atrás o “crédito” pressupõe o “acredito”, embora isso cada vez menos faça sentido. Mas é bom que retenhamos que isso é uma contingência da economia e da sociedade que temos e de que também participamos, herdada da Renascença na qual a ciência, mas ciência numa perspectiva essencialmente técnica e utilitária, domina o homem. Nesta, as solidariedades sociais são cada vez menos fundadas nos parentescos, valores e necessidades básicas das pessoas (onde uma certa humanidade podia ser detectada) e cada vez mais em interesses de instituições viradas para uma atitude de máxima eficácia e lucro imediato, longe de qualquer humanidade. Mas não é necessário que assim seja e esta não é a sociedade da felicidade, se é que há alguma que a consiga!

Mas isto levar-nos-ia a questões éticas, morais e religiosas que não cabem no âmbito deste pequeno artigo.

O Crédito, como tudo, tem mais que uma abordagem possível. Mas é essencial que, sendo fruto da inventiva do homem para lhe facilitar a sua vida prática e não devendo o homem limitar-se a esta mas aspirar a algo mais substancialmente elevado, esteja sempre e somente ao serviço do homem.

Por Adélio Fonseca

Como Investir em Acções

Existem inúmeras formas para começar a investir em ações. Aqui irei citar alguns caminhos que tenho como boas escolhas:

Fundos de investimento em ações (FIA): São fundos que investem majoritariamente seus recursos em ações negociadas em bolsa de valores. Dessa forma, estão sujeitos às oscilações de preços das ações que compõem sua carteira. Devido a essas variações e ao risco, são mais indicados para quem tem objetivos de investimento de longo prazo.

Clubes de Investimentos: São formados por grupos de pessoas que tenham interesse de aplicar na bolsa, assim se unem a uma corretora, formam um estatuto legal, e aplicam respeitando as imposições legais de um clube de investimento. A vantagem é que o capital a ser investido fica maior, uma vez que muitos investidores juntam seu dinheiro em uma mesma conta, no entanto as decisões de investimento são tomadas em conjunto.

Investidor Pessoa Física: É o investidor que toma suas próprias decisões de investimento, escolhendo os ativos de acordo com seus critérios.

Existem vários métodos para você escolher o que comprar ou vender, sejam eles convencionais ou não, como, fundamentos, gráficos, chute, indicação do amigo do seu amigo, astrologia, entre outros. Aqui irei citar dois que tenho como dignos de serem considerados, análise técnica e fundamentalista.
Existem inúmeras formas de ser um analista fundamentalista ou técnico, essas duas correntes se dividem em muitas. Portanto prefiro deixar a seu critério escolher qual seguir, e com o intuito de ajudá-lo deixarei vários links de onde encontrar textos sobre o assunto.

Após escolher sua metodologia, procure definir seu sistema que irá obedecer para tomar suas decisões, a mudança de sistema para operar é o grande vilão dos investidores, portanto tenha em mente, teste e coloque em prática seu sistema.
Antes de comprar um ativo, tenha definido, caso o mercado reaja contra sua posição, aonde irá deixar essa posição; essa é uma das maiores dificuldades que as pessoas encontram no mercado, reconhecer que erraram. Elimine suas perdas rapidamente, obedeça seu método e utilize conceitos de risco x retorno, são dicas para você se manter no mercado, ao invés de sair falido, colocando a culpa no mercado. A culpa jamais é do mercado.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Crise dos Cereais

Por Dionério Hermínio Gilberto Uqueio[1]


A CRISE DOS CEREAIS E O FUTURO DOS GOVERNOS EM ÁFRICA[2]


Na literatura e debates o nosso Continente, África e as sociedades Africanas ainda são muito frequentemente tratadas como regiões homogéneas com características comuns: pobres, rurais, dualistas, com abundância de força de trabalho desqualificada e barata e de terra com condições agrícolas, em transição permanente entre os modos de produção, dominadas por estados patriarcais, etc., in “Castel Branco, (2008), Alternativas Africanas ao Desenvolvimento”.

Não é do meu interesse neste artigo apresentar um conjunto de ideias totalmente da minha autoria, aliás mesmo que o pretendesse fazer, as normas da academia inibem-me, pois indivíduos com uma elevada inflação de conhecimentos em metodologia de investigação em ciências sociais, apregoam que uma boa tese deve basear-se sempre num referencial teórico.
É neste contexto que de forma modesta proponho-me a tecer alguns comentários, primeiro sobre a crise dos cereais (arroz e milho) que afecta o mercado internacional e segundo sobre a futura instabilidade dos governos em África como resultado de toda esta conjuntura internacional que origina a fome e a crise dos cereais.

Em Economia Política fica clara a posição de David Ricardo (1772-1823), no que concerne a divisão internacional do trabalho. Para este economista Inglês cada país devia especializar-se em áreas onde tem maior domínio de produção, de modo a criar as suas vantagens comparativas no mercado internacional de bens e serviços. Ora na minha fraca maneira de ver o continente africano marginalizou o pensamento não só de Ricardo, bem como de tantos outros economistas, e especializou-se apenas na importação de bens e serviços provenientes dos países do Norte ( países desenvolvidos).
Um outro aspecto a, levantar é o que o economista Castel Branco apresenta-nos de uma África que serve como “cobaia” de modelos ignorantes e irresponsáveis de “pacificação”, “estabilização”, democratização”, “globalização”, e “desenvolvimento”, vindos do exterior, como forma de legitimar o poder desacreditado e debilitado de burguesias nacionais, frequentemente encostadas aos ombros do grande capital internacional a qual se dizem constituir a alternativa genuína e claro, africana.
Foi este aspecto que levou Moçambique por exemplo a privatizar a maior parte das suas empresas públicas, no âmbito do Programa de Reajustamento Estrutural (1987), algumas das quais da área agrícola, o que posteriormente veio levar essas empresas à falência, quiçá pela falta de um empresariado forte e capaz de gerir toda esta atmosfera do neoliberalismo económico, baseada numa abordagem do livre mercado, trazida pelos economistas neoliberais filiados ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Mundial (BM), quiçá também a má adequação das receitas de desenvolvimento importadas do ocidente e talvez devido a corrupção que tem vindo a caracterizar a maior parte dos dirigentes africanos ( tal é o caso de Mobutu no ex -Zaire).

Acredito que todos estes e outros aspectos acabam influenciando e condicionando todas as estratégias do desenvolvimento agrário, tornando os países africanos como meros importadores de mercadorias. Como superar isto?
De alguma forma acredito que todos estão a par do grande acontecimento que esta desgraçando a vida de vários cidadãos no mundo e em particular na Ásia, é o chamado “Tsunami silencioso”, caracterizado pela carência de cereais no mercado, aliás não é surpresa para ninguém ouvir dizer que na Guiné Bissau por exemplo já não há arroz no mercado, que na França uma fábrica de descasque de arroz fechou as portas, que na Ásia 1000 pessoas morreram de fome, que em Moçambique o saco de 50 quilogramas de arroz chega a atingir 1000 meticais (quando o salário mínimo ronda aos 1400 meticais) e o mais incrível que nos EUA, há limitações em termos de quantidade a ser adquirida de cereais no mercado, são exemplos claros para afirmar que estamos perante uma crise alimentar que talvez só terminará em 2015. Um outro aspecto é que enquanto a crise fustiga, persistem governantes africanos, que funcionam como caixas de ressonância do ocidente e reproduzem o discurso do plantio da JATROFA, em detrimento do milho e do arroz, esquecendo-se que a Tailândia (maior exportador de arroz no mundo), deixou de exportar arroz, estando de momento a cumprir apenas com os acordos já estabelecidos, os seguidores desta medida não tardaram e são o Paquistão, a China, o Brasil e a Índia. É este clima que o mundo vive, é por isso que exorto aos países do sul a encontrarem alternativas mais eficazes de resolver este assunto, redefinindo as suas estratégias de desenvolvimento agrário.
No caso de Moçambique seria recomendável criar condições para recuperar o regadio de Chokwé que segundo Castel Branco já foi o maior exportador do arroz, de maior qualidade e mais caro no mundo, como forma de reduzir as importações, que do momento estão ao nível de 90%, pois o país só produz apenas 10% do arroz que consome.

O segundo aspecto deste artigo é fundamentado na previsão realizada pelo representante do Banco Mundial em Moçambique, segundo a qual esta crise poderá pôr em perigo alguns governos em África. Na minha modesta forma de ver os exemplos mais nítidos são as manifestações de Maputo “o famoso 5 de Fevereiro”, as da Guiné Bissau e dos Camarões que constituem uma plataforma fundamental para análise deste fenómeno. Por outro lado a população não percebe que este é um problema de todo mundo e que as suas origens tem haver com a subida dos preços de petróleo (último recorde foi de 120 dólares por barril) no mercado internacional (no dia 1 de Maio de 2008), o receio às inundações no continente asiático que levam os agricultores a pararem com as suas actividades normais e o aumento da população no mundo que não foi proporcional aos níveis de produção. É a fome que põe em perigo alguns governos em África, pois a população atira toda culpa aos governos, a qual vê comprometido o seu voto de confiança, acusando a estes de corruptos, ladrões e ostentadores de carros de luxo. Na minha percepção este é um problema global em que todos são chamados a dar a sua contribuição para reverter a situação.

Finalmente questiona-se que desenvolvimento é esse que pretendemos atingir num continente cujos focos de produção não passam de produtos tradicionais (bio combustíveis, café, cacau, chá, algodão, etc.), recursos naturais e serviços isolados uns dos outros para dinâmicas de criação e desenvolvimento de capacidades e actividades articuladas, inovadoras e diversificadas?
[1] Bacharel em Administração Pública e estudante do 4º Ano do Curso de Licenciatura Administração Pública no ISRI, Estudou (sem ter concluído) o Curso de Licenciatura em Economia, na Faculdade de Economia da UEM. Contacto: 82 42 40 841, E -mail: dioukheio@yahoo.com.br!
[2] Este artigo é resultado de vários debates em mesa redonda, que tenho vindo a ter com vários colegas da Faculdade, a destacar: Luís Cumbe, Bruno Alexandre, Martinho Massimbe, Yasser Omar, Sousa de Sousa, Atanásio Khosa, Ermenegildo Xavier e Wiltone Levissone.

Qualidade no Atendimento Bancario

QUALIDADE NO ATENDIMENTO COMO FACTOR DE RETENÇÃO DE CLIENTES, NUM MERCADO BANCÁRIO EMERGENTE: O caso da Banca em Moçambique.


Por Dionério Uqueio[1]

“ Então uma das coisas que se levará ao século XXI é essa administração mais voltada para as pessoas” Cristiano Cunha.


O mundo contemporâneo, incluindo o mundo do trabalho passou a valorizar aspectos da vida que foram negligenciados durante muito tempo. Ecologia, bem-estar, atendimento personalizado, ambiente agradável, qualidade de vida e demais assuntos que apontam para a necessidade de resgatar a dimenão humana e emocional de todas as actividades (Franco, 1993:63).

Tratando-se do sector bancário, Reis (1998) afirma que fazer com que o cliente perceba a qualidade dos serviços que ele requer que a instituição bancária lhe preste, pode representar um diferencial competitivo.

Hoje segundo, Reis (opt. Cit) um cliente, ao pagar pelos serviços está exigindo das instituições bancárias, serviços de qualidade cada vez maior, afinal ele sabe o real valor do seu dinheiro e quanto custou para ganhá-lo. Foi-se o tempo que o cliente tolerava os maus serviços em troca de alguns “benesses”.

Assim a excelência no atendimento[2] é um instrumento essencial para conquistar e manter clientes num mercado bancário emergente, constituido por funcionários inexperientes, tal é o caso de Moçambique.

A qualidade no atendimento é o factor que passou a fazer diferença entre o maior ou menor sucesso nas organizações.

Segundo Drucker (1995: 27), no verejo, todos falam de atendimento como a chave para o sucesso ou mesmo da sobrevivência.

Assim o papel a ser desempenhado pelas instituições bancárias deve ser (Reis, 1998):

§ Proporcionar serviços com comodidade para o cliente;
§ Atender a todos os clientes de forma igual;
§ Ter empregados qualificados em número compatível a necessidade de atendimento;
§ Ser ágil na prestação de serviços;
§ Conhecer as reais necessidades dos clientes e procurar satisfazê-las;
§ Manter o cliente informado;

Os factores acima poderão definir a escolha do cliente. Pois a excêlencia no atendimento é um instrumento fundamental e essencial para conquistar e manter clientes.

A excelência no atendimento significa a necessidade de atingir a avalição máxima em todos os critérios de satisfação, não apresentar problemas no relacionamento com os clientes.

Moçambique é um país que aderiu a economia do mercado no pós-guerra fria, sendo que após a sua independência havia pautado por uma economia centralizada, onde todos os negócios eram da responsabilidade do Estado, e todas as instituições bancárias pertenciam ao Estado.

Foi com a implementação do programa de reajustamento estrutural (PRE), receitado pelas Instituições da Bretton Woods, nomeadamente o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional que Moçambique liberalizou o sector bancário e foram substituídos os bancos estatais por bancos comercias, com excepção do banco de Moçambique, por volta dos anos 1990, criando uma economia bancária livre e emergente, que veio a condicionar o aumento de operadores neste sector.

Estima-se que o país tenha actualmente mais de 12 bancos, comparativamente aos anteriores 3 na década de 80.

Segundo Reis (1998)

Com a crescente bancarização da vida económica a procura pelos bancos cresce ao mesmo tempo que cresce a concorrência entre estes, e os clientes estão a se tornar cada vez mais criticos em relação aos serviços que recebem, não se trata de desejos, mais sim os clientes estão a espera de serviços melhores.

No caso do sector bancário moçambicano que é emergente e com tendências a uma forte concorrência de operadores, a aposta num melhor atendimento e a agregação de valores nos serviços pode ser um deferenciador que faça com que o cliente decida entre uma instituição bancária e outra.

Assim importa realçar que a qualidade de serviços prestados ou a excelência no atendimento é que determinam a procura ou não dos serviços prestados por uma determinada instituição bancária.

Felizmente em Moçambique tem se registado alguma evolução no sentido de pôr o cliente em primeiro lugar, termos visto os funcionários dos bancos a sorrir e a prestar atenção as pessoas. Mas é necessário que os gestores intensifiquem a qualidade de atendimento como a forma de criar uma poderosa fidelidade dos clientes aos serviços prestados pelos seus bancos.


Referências

DRUCKER, Piter (1995), Administrando em Tempos de Grandes Mudanças, Pioneira, São Paulo

FRANCO, S. (1997), Criando o Próprio Futuro: O Mercado de Trabalho na Era da Competividade Total, Ática, São Paulo.

HOROVITZ, Jacques (1993), Qualidade de Serviço: A Batalha pela Conquista do Cliente, São Paulo.

REIS, L.S.F.D (1998), A importância da Gestão da qualidade na Actividade Bancária, Rio de Janeiro.

[1] Mestrando em Contabilidade, Ramo de Auditoria na University of Aveiro, Licenciado em Administração Pública pelo Instituto Superior de Relações Internacionais. Freqüentou o curso de licenciatura em Economia na UEM. Foi professor de Gestão de Aprovisionamento e logística na Catmoz.
[2] Atender é dar atenção, acudir ao chamado de alguém, dar solucção favorável a um pedido, levar em consideração, ouvir, atentar, considerar, e.t.c.